Miss. Cristiane Tenório
Diretora do DEMIC em 2000
01 de janeiro de 1973, nasce no Rio de Janeiro, em um lar conturbado uma menina, indesejada por questões sociais e financeiras, houve tentativa de aborto, porém, impedida por Deus, afinal de contas quem Deus decide usar na terra não pode morrer. Na infância, precisamente aos seis anos, quando retornamos à Paraíba tínhamos sede de Deus, gostávamos de ouvir os programas de rádio, até ganhamos uma Bíblia premiada. Na adolescência começamos a ir à igreja com uma irmã que morava na nossa rua, mamãe era desviada, lembro-me que um dia ela se irritou e disse: “Aqui ninguém vai para igreja, se insistir rasgo as roupas de vocês, queimo, mas ninguém vai.” Como ela se colocou na frente da porta, naquele dia não fomos. Mas depois ela foi permitindo aos poucos.
Participávamos de acampamentos, evangelismo, grupos de jograis, enfim, estávamos envolvidas com o serviço da igreja, mas não com o Deus da mesma. Na época do São João, em nossa cidade havia um movimento jovem denominado “Cantinho da Paz”, todas as noites estávamos lá, era uma benção!!! Bem próprio de jovens crentes: havia louvor, pregação, peças, evangelismo... Um dia ao sair para evangelizar proferi a seguinte palavra: Jovem, Jesus te ama e pode te salvar!! A palavra surtiu efeito em ambos: ouvinte e pregador. Instalou-se uma insegurança, uma inquietude em meu ser. Não consegui mais evangelizar. Ao chegar em casa, orei ao Senhor: “Meu Deus eu sei que tu me amas, tens provado isto, pelo cuidado que tens comigo, pelas orações respondidas... Qual a razão desta falta de paz? Fala comigo meu pai”. No outro dia a pregação foi fundamentada na experiência de Nicodemos, ou seja, “se alguém não nascer de novo não pode ver o reino de Deus”. Nasci de novo naquela mesma noite, não precisou de apelo. O Espírito de Deus me mostrou que eu fazia tudo na igreja, menos abrir a porta do meu coração pra Jesus entrar. Pois é, naquele dia Ele fez em mim morada.
Nesta época eu tinha 15 anos. Deu-se início uma guerra espiritual terrível, o diabo não estava satisfeito, começou a me perturbar durante as noites. Ouvia passos fortes em minha direção, via demônios personificados em pessoas da minha família, até que um dia vi um demônio em forma de criança querendo me esganar. Foi horrível, depois da visão, clamei ao Senhor, que retirasse aquilo da minha casa, afinal fui convertida, para ser liberta e não para sofrer opressão. E Deus me atendeu. Hoje quando tenho visões sei como reagir. O nome de Jesus é suficiente para repreender todo e qualquer demônio. Aos 16 anos participei de um treinamento para professores de crianças, lá ouvi um testemunho de uma missionária que se sentia rejeitada pelas pessoas e após a conversão de sua mãe, esta lhe pedira perdão e Deus curara suas emoções.
De pronto me identifiquei com ela, novamente ao chegar em casa, orei e pedi ao Senhor que me revelasse porque eu também me sentia rejeitada por todos, e como me sentia tão inferior aos demais! No outro dia, mamãe foi varrer o quarto, aproveitei a oportunidade e lhe perguntei: “Mãe me responde uma coisa, por acaso a senhora não quis ter algum de seus filhos?Sei lá por algum motivo. Ela olhou pra mim bem séria e disse: prá que você quer saber? Quer ficar com raiva? Eu lhe disse: não mãe, só gostaria de saber. Aí ela me respondeu: “eu não quis você, já tinha duas meninas e queria trabalhar, aí descobri que estava grávida. Fui à farmácia e tentei comprar uma injeção salina, mas o farmacêutico perguntou se o meu marido sabia. Disse que não, e ele não me vendeu.” Pronto, agora eu já sabia do motivo do sentimento de rejeição e inferioridade. Minha mãe não me pediu perdão, mas eu decidi perdoá-la. Deus curou minhas emoções e me deu um amor intenso por ela, agora eu podia abraçá-la e beijá-la. Coisa que outrora, havia uma barreira, mas fora quebrada ao comentar o fato com um dos conselheiros do cantinho, que orou por mim e Deus completou a obra.Tornei-me sua intercessora, queria minha mãe salva. Mas, se tratava de castas de demônios.
Aos dezesseis anos ao participar de um retiro de carnaval da nossa igreja, em um dos momentos de oração o poder de Deus foi extraordinário. Era época de renovação espiritual, Deus usou uma irmã e disse que estava me batizando com o seu Espírito, foi algo tão maravilhoso que perguntei ao Senhor em espírito o que poderia fazer para agradecer-lhe. Ele me respondeu, usando a irmã em profecia: Vai e prega a minha Palavra. Ao terminar o ensino médio, Deus me levou ao Betel, parecia um sonho, ora eu não tinha dinheiro, mas Deus me disse: “Para Deus tudo é Possível”. E foi mesmo! Dentro de um mês eu estava no Betel, vale salientar que depois da matrícula feita, minha mãe me disse: “Pegue sua matrícula rasque, queime, dê a quem você quiser, mas você não vai.” Eu não queria ir à obra missionária em desobediência à minha mãe. Mas, também sabia que Deus estava neste caminho. Então orei de novo, com jejuns é claro. Orei quase quinze dias, na terceira vez que falei com ela, ela me disse: Vá, não é isso que você quer.! E eu fui!!!
No Betel Deus me fez uma promessa de libertação em relação a minha mãe: “O exilado cativo, depressa será solto, não morrerá na masmorra e o seu pão não lhe faltará” (Is.51:14), também me disse que na minha casa era uma guerra do céu contra o inferno e Ele estava me levantando como coluna. Era difícil, porém possível. No meu segundo ano de seminário, ao vir de férias houve um probleminha familiar, repreendi em voz alta a atuação do maligno dentro da nossa casa e senti o diabo correr da sala pra fora da casa. Foi o dia em que minha irmã caçula se converteu. Hoje é missionária no Rio de Janeiro, casada com um pastor batista. Mas este era apenas o início da batalha, aos poucos Deus foi alcançando a família.
Quando retornei do Betel, Deus me mandou de volta para casa e fui trabalhar na minha igreja.Foi uma luta em termos de finanças, o pastor entendia que moça só precisava de material de higiene. Irônico,não!?! Outra luta com Deus! Meu pastor não sabia que meu pai havia abandonado a casa, mas o Senhor sim!! Ele sempre foi meu pai. Com muita luta a igreja resolveu nos abençoar com um salário e Deus levantou duas irmãs de outra igreja que também faziam o mesmo. Assim, eu podia assumir meus compromissos com o meu lar, junto com minhas irmãs. Éramos responsáveis pelo sustento da casa e de nossa mãe, mas o Senhor sempre foi muito FIEL!!! Nunca nos faltou nada, afinal havia uma promessa. Aleluia!!!
Meu primeiro ano de ministério foi terrível, chorei o ano inteiro. No final do ano Deus fala comigo “Reprime a tua voz de choro, pois há esperança para o teu futuro” Jr.31:16. Minhas emoções estavam fragilizadas e Deus e concedeu o meu pedido. Recebemos um convite e fomos trabalhar com a UMEPA – União Missionária para Evangelização da Paraíba, onde permanecemos durante dois anos. Foi um tempo de refrigério, todo final de semana e feriados viajávamos para os sítios, comunidades carentes, igrejas do interior, dentro e fora da Paraíba. No tempo de sair, Deus me disse: “o que tens para fazer, faze-o depressa.” Deixei a missão que sempre me abençoou com respeito, unidade, amor e paixão pelas almas perdidas e o desejo de glorificar a Deus.
Depois do refrigério, Deus me trouxe de volta pra minha igreja, agora já era outro pastor quem liderava. Casei-me em 1997, com um membro comum de igreja, não queria casar com pastor, queria apenas ser missionária, porém em pouco tempo de casada meu marido tornou-se pastor, engraçado não? Em 1999 nasce nosso primeiro filho, como presente de Deus é uma criança especial. Entender? Não entendo, mas sei que tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus. O menino é crente, um puro levita e muito fiel a Deus.
Assumi a presidência das missionárias em 2000, naquele ano eu havia feito um voto a Deus de que tudo o que viesse as minhas mãos para fazê-lo, de pronto eu o faria. Agradeço a Deus pela sua soberania e onisciência e por todas as oportunidades de poder servi-lo.
Há 12 anos estou envolvida com a Escola de Ministérios El-Shaddai,atualmente sou diretora deste seminário, fruto de uma visão do pastor Jadiel em viagem à França. Em muitos momentos estive pronta para entregá-lo para que outros pudessem abraçar esta obra. Mas, Deus não o permitiu, para a glória de Deus o obedeci, pela misericórdia e graça.
Em 2006, porém, estava exausta, tive outra filha fruto da fidelidade de Deus, mas morava num apartamento e meu filho ainda não anda, não senta, não come com suas próprias mãos, é um grande bebê. Orei por uma casa durante seis anos, não suportava mais subir tantas escadas. Neste tempo solicitei de Deus que confirmasse meu ministério no seminário: “Senhor das duas uma, ou o senhor cura o menino ou me conceda uma casa, não tenho condições de prosseguir”. E Deus fez um milagre, nos concedeu a casa própria. Confirmando assim meu ministério no seminário. Estou lá até hoje!!! Quanto a minha mãe, Deus nos mandou fazer um jejum de sete dias, reunir a família e clamar por ela. Na sexta vigília renovou minha irmã que estava afastada e na sétima libertou minha mãe de toda opressão maligna, com dois meses a levou para glória. Ele é Soberano!!!
O que eu entendo de ministério? Deus é fiel em todo o tempo, durante estes dezessete anos ininterruptos de ministério as lutas são constantes, mas a mão de Deus é forte sobre nós. A realidade das calúnias, perseguições, falsos irmãos e desalentos são “normais”. Todavia, a realidade da presença atuante de Deus nos faz descansar e nos concede bênçãos extraordinárias que nem um homem poderia nos oferecer, tampouco nossa inteligência e destreza poderia alcançar.
A Deus, minha gratidão por todos os feitos memoráveis que a sua graça nos capacitou a realizar oferecendo treinamento para novos obreiros com os cursos de Bacharel em Teologia, Teologia Ministerial, Essencial em Teologia e Liderança Cristã oferecidos no seminário. Nossa alegria é vermos nossos formandos fundando igrejas, desenvolvendo ministérios e dando o seu melhor à Deus.Também não deixo de desenvolver ministério na minha Igreja Congregacional Nova Aliança, onde meu marido pastoreia. Sou professora de EBD, supervisora do departamento infantil, Diretora da UAF... e é claro pregadora, pela graça de Deus já ganhei meus dois filhos prá Deus, porque Missões começa em casa, mas não se limita a ela. Quanto ao meu filho especial, ainda oro para que Deus faça um MILAGRE em sua vida. Junte-se a nós nesta batalha!!!
Enfim quero expressar o que entendo do ministério feminino: Ser missionária é ter os olhos fitos no céu. É ter intimidade com o Pai e saber exatamente o que Ele quer para nossa vida em particular. É ter coragem de ser um desbravador quando necessário. É entender que Deus determina lugar, posição, tempo e função, e estas não são ocasionais, são providencias e fazem parte do seu propósito eterno de fazer convergir em Cristo todas as coisas. O chamado não é oriundo da rejeição de algum homem à vocação divina, e aí Deus chamou as “reservas”. Não! Ser missionária é ser a primeira opção de Deus, é entender e personificar a realidade de sua soberania expressa por Jonas em sua experiência dramática. Afinal quando duvidei a resposta divina foi: “O meu propósito será firme, e farei toda a minha vontade” (Is.46:10b). Em toda a história de Missões mulheres se destacaram pela sua dedicação e intenso amor pela obra missionária. Pois entenderam que os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis. Seja você também partícipe desta história. Que o Espírito Santo possa escrever um novo tempo em nossas vidas e em nossa denominação de uma forma bem expressiva.
Um abraço em Cristo, que sempre nos conduz em triunfo.
Miss. Cristiane Tenório Pereira
Diretora Acadêmica da Escola de Ministérios El-Shaddai, Vice-Diretora do DEMIC, Esposa do Pr. João Batista e mãe de Jhônathas e Joyce